Fomos enganados?

Tenho recebido uma verdadeira barragem de artigos (de opinião), enviados por amigos meus que se reveem nas ideias lá expressas, sobre a covid-19 ser um “embuste”.

Concordo que em vários desses artigos são levantados pontos válidos, nos quais me revejo. É de uma violência sem precedentes separar uma mãe do seu filho recém- nascido, ou deixar morrer os que morreram no hospital sem se puderem despedir ao vivo das suas famílias. Os números que a comunicação social, nomeadamente os jornais e telejornais, utilizam e utilizaram para comunicar a situação são, tendencialmente, os mais “impressionantes” que possam ter à sua disposição.

No entanto, e esta é a questão fundamental: um número é um número, e tem sobre nós o efeito que deve ter, nem mais nem menos, se soubermos exatamente o que significa.

Que vários de nós tenham compreendido mal o significado dos números que nos foram apresentados, chama-se iliteracia.

A iliteracia funcional, ou incapacidade de compreender a informação fornecida, em questões de saúde é um problema presente em 73% da nossa população entre os 16 e os 79 anos, de acordo com um estudo recente feito no ISPUP. O nosso povo é iliterado em questões de saúde.

E é agora sobre essa iliteracia númerica, científica e de saúde, que estes novos artigos (de opinião) sobrevivem. Utilizando adicionalmente técnicas de retórica. Ou de manipulação das emoções, se preferirem. Podemos questionar, em democracia, o que nos pedem para fazer, tendo por base dados cientificos. Tendo por base aquilo que vamos aprendendo sobre este virus com a passagem do tempo. Não a opinião de algum de nós que pode, ou não, ser capaz de compreender o que lê.

Só o futuro dirá, à medida que se vai desenrolando, se houve ou não excesso de zelo pela parte dos nossos governantes. Relativamente às escolhas que foram feitas no passado há o momento histórico a considerar. A imagem dos serviços de urgência na Lombardia incapazes de lidar com todos os doentes, os relatos angustiados dos médicos italianos, pouco habituados a lidar com aquela intensidade de morte e de ocupação nos seus serviços. O desconhecido e aparente alieatoriedade na progressão da doença. Os relatos dos médicos, e de Itália, naquele momento, enviaram arrepios pelas costas de todos nós.

A ideia de experienciarmos um caos semelhante aqui, e o desconhecido que rodeava a doença naquele momento, levou a se que tomassem medidas drásticas e difíceis, a vários níveis, algumas possivelmente exageradas.

Não obstante, a covid 19, mata. E mata em grandes números. Isso é um facto inegável. Temos o exemplo de NY, do Brasil, e da Lombardia, para saber que é verdade. Os relatos dos médicos que estiveram na linha da frente são uma experiência que vale a pena conhecer, compreender e recordar.

Nós cá não tivemos nada disto. Porque as nossas liberdades foram restringidas? Porque fomos capazes de respeitar as instruções que recebemos durante o confinamento? Porque o vírus não mata portugueses? Eu cá não sei.

Não conhecer ninguém que tenha estado infectado, e doente, e morrido, só me traz felicidade. Se manter-me longe de ajuntamentos, utilizar máscara para proteger os meus concidadão de infeção, lavar as mãos e respeitar as distâncias são o que é requerido de mim, neste momento, para manter esta realidade, consigo faze-lo mais uns meses? Sim. Vou faze-lo? Absolutamente!

Publicado por Ofélia Carvalho

Trainer de PNL e Doutorada em Ciências Biomédicas. Investigadora na área das neurociências e biologia molecular com mais de 20 anos de experiência. Consultora do "Panorama Social". Formada em "Time Line therapy", "Human Validation Model" de Virginia Satir, Comunicação generativa e Coaching sistémico.

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